Nesse sítio, tempo de desocupar a casa, carregar peso e ficar com o braço capenga.
Nesse sítio, é tempo de jogar fora todos os potes gigantes, médios e pequeninos que minha mãe colecionou durante 57 anos. Porcelanas, bibelôs e faqueiros. Toalhas da ilha da Madeira.
Nesse sítio, é tempo de sentir dor nos ombros e nas espáduas, e não ter ninguém prá fazer uma massagem de uma hora inteira. Nesse sítio, é tempo de estrebuchar e ter ataques gratuitos. Nesse sítio, eu sento e penso que reino. Não apito nada , mas finjo de apito.
Nesse sítio tive nojo de abrir algumas gavetas úmidas. Pilhas de roupas fora de moda, bijouterias do tempo de Coco Chanel. Chapéus, casacos do tempo do onça e montes de trecos que eu não sei prá que servem.
Caixinhas sem nada dentro, um cronômetro de natação e um canivete tosco do meu pai.
Nesse sítio, encontrei bilhetes, santinhos da igreja católica e cadernos de orações. Tudo foi pro lixo, dei adeus com um suspiro de felicidade.
Nesse sítio, casa da infância, agora deteriorada, senti desilusão.

Nesse sítio, senti o cheiro do abandono, o amor desfeito e a estranheza.

Nesse sítio não reinava o amor.
Nenhuma pérola escondida ou brilhante.
Não tive surpresas, só asco.
E uma crise de choro no quintal.





* Imagem via Enigma-Astralis , Lake of Fools

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| Por Prensada | terça-feira, 26 de maio de 2009 | 20:22.