Anotações do caderno preto



* Hoje de manhã bem cedo , subi pela trilha do bosque dos pinheiros. Muito fácil respirar essa resina perfumada que desprende das árvores. Por esse motivo tão singelo, meus passos se tornaram bem lentos , porque eu queria aproveitar o clima e o ar. E permancecer o maior tempo possível naquele ambiente.
Solenidade para adentrar em um lugar que eu desconhecia.
Meu coração até estava fora do compasso.
Luz dourada desabava em árvores , aranhas e alguns bichinhos voadores que eu não sei o nome.
Bicho urbano eu. Ridícula, no meio daquelas coisas vivas.
Eu me vi conversando mentalmente com você. (...)
Faz tempo que li isso em algum lugar.
Por incrível que isso possa parecer, lembrei de você.

* O passeio peripatético teve várias paradas, para goles de água.
Os filósofos inventaram essa palavrinha que lembra circo e teatrinho de fantoches,
para definir uma caminhada prazeirosa que dá em alguma coisa boa.
Definições de vida.
Freud , no princípio tratava seus primeiros pacientes em longos passeios.
No meu caso, topei com um caminho de flores amarelo-enxofre berrantes.
Um escândalo, um hino exuberante.
Não preciso de Freud.
Basta-me flores amarelinhas.

* Lá no alto da montanha, arrumei um banco de galhos
estilo Frans Krajcberg,
e fiquei de guardiã do bosque.
Até inventei um hai-kai caipira = Nhô Quim ( risos )
queria escrever na casca de uma árvore gigante sobre o bichinho
que se esgueirava no galho em marcha lenta -
enquanto conversava mentalmente com você. ( ...)

na trilha luminosa / caracol / preso na casca / festeja em casa

* Aqui não tem pecado, você pode arrancar florzinhas pequeninas -
é só pedir licença.
Não tem essa de destruição, porque a Natureza,
meus amores, ela é Criação.
Se você não tirar proveito dela -
( com sacanagem, fogo, cinzas e dinheiro )
ela dá prá você de volta a sua melhor floração.

Arranquei uma florzinhas miúdas bem rosinhas, porque
combinavam com o dia e botei dentro do livro do Wilde.
Ah, Dorian Gray na algibeira e poemas de Gullar.
Quem não tem pecado que arranque a primeira flor, meu amor.
Não tinha canivete, senão rabiscava um escancarado coração na árvore.


* Referências para não esquecer:
História Social da Arte e da Literatura - Arnold Hauser
Os Sertões - Euclides da Cunha ( Terra - Homem - Luta )
Ensaios - Montaigne * consegui *
Guy de Maupasssant - Contos ( Cia. das Letras )
O Livro Luminoso da Vida - D.H. Lawrence
Petrarca - Sonetos ( !! )

* (...)" e nesse estado estou, mulher, por vós".

E mais referências :
Reinaldo Bessa
Glauco Mattoso
Antonio Cícero
Cartola
Paulinho da Viola


* Imagem * pintura do caipira Almeida Jr, Moça com Livro.

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| Por Prensada | terça-feira, 21 de setembro de 2010 | 18:14.