Tudo isso que vivi é muito prá mim. Já vivi muito.
E isso é tudo. Não tenho mais assunto.
Estou muito cansada de me repetir. Exausta.
Já limpei elmos e espadas para soldados
em guerra:
ergui com minhas mãos edificações bélicas;
já tratei de feridas e sabia desenhar como ninguém
flores, plantas e raízes.
Protegi o Templo e os figos maduros.
Um sofrimento, um calor.
Eu era  um bruto.
E isso tudo é um nada absoluto, porque ninguém se importa.

Mesmo neste verso pé quebrado
acumulado aqui
flor assombrosa que encontrei
uma flor que não é uma flor  -
vontade de arrancá-la da sua haste
mas é só um desejo.
Quero que ela viva tudo.
Desejo é coisa de ar rarefeito.
Quase some no ar se você não apanha no vôo.
Ela que  sai do meio da terra
com seu tubérculo vivo, grosso, sedento de luz
um esplendor de talento e beleza.

Porque ela pensa como eu
que é necessário sentir tudo
usufruir de toda a seiva
Não tremeu ?
Não gritou ?
Não sentiu prazer ?
A cabeça não girou
e você não sabia mais onde estava ?
[ Eu sim ]

Sempre as malditas dúvidas,
já escreveu
o mestre da auto-ajuda refinada:

duvide que as estrelas
sejam fogo
duvides que o sol
se mova
duvides que a verdade
seja mentira
mas nunca duvides do meu amor

*  Imagem flower begonia tuberous by Irving Penn

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| Por Prensada | quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011 | 11:29.